O Cânon de Orígenes

O Cânon de Orígenes

 

O CÂNON DE ORÍGENES

 

ÍNDICE

Introdução

Apresentação do Cânon

Oscilação do Cânon em Comentários 

 

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INTRODUÇÃO

1. Orígenes, estudioso cristão (185-254 d.C.)(RODRIGUES, 2012; pág. 121), apresenta o “cânon menor”, mas inclui a CARTA DE JEREMIAS e MACABEUS; quanto a isso, observa-se uma OSCILAÇÃO, pois, embora seu cânon NÃO inclua "alguns" deuterocanônicos, em comentários, Orígenes trata "alguns" deuterocanônicos como sendo “canônicos”; veja a seguir o cânon de Orígenes e a “oscilação” em seus comentários.

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APRESENTAÇÃO DO CÂNON

 

O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

ORÍGENES relata que, de acordo com os hebreus, há 22 LIVROS, equivalendo ao cânon menor, MAS inclui em seu cânon o deuterocanônico CARTA DE JEREMIAS e MACABEUS; o cânon de Orígenes está mencionada na obra HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6:25.1,2, do historiador EUSÉBIO DE CESARÉIA (BRUCE, 2011; págs. 67, 68). 

“Não devemos ignorar que há 22 livros do (Antigo) Testamento, de acordo com as tradições dos hebreus, correspondentes ao número de letras em seu alfabeto...

...Estes são os 22 livros, segundo o hebraico:

Aquele que entre nós é designado como (1) GÊNESIS, mas que entre os hebreus, com base nas primeiras palavras do livro, é chamado “Be-reshit”, isto é, “no princípio”. (2) ÊXODO, “We-elleh shemot”, ou seja, “estes são os nomes”. (3) LEVÍTICO, “Wa-yiqra”, “e ele chamou”. (4) NÚMEROS, “Homesh piqudim”. (5) DEUTERONÔMIO, “Elleh ha-debarim”, “estas são as palavras”. 

(6) JOSUÉ, o filho de Num, “Yoshua bem-Nun”.

(7) JUÍZES e RUTE, contidos em um só livro, “Shophetim”.

(8) I e II REINOS, um único livro, “Samuel”, “chamado por Deus”.

(9) III e IV REINOS também em um só livro, “We-hamelek David”, isto é, “o reino de Davi”.

(10) I e II CRÔNICAS em um único livro, “Dibre yamim”, isto é, “palavras de dias”.

(11) I e II ESDRAS em um único livro, “Ezra”, ou seja, “o ajudador”.

O livro de (12) SALMOS, “Sepher Tehilim”. Os (13) PROVÉRBIOS de Salomão, “Meshalot”. (14) ECLESIASTES, “Qohelet”. (15) CANTARES, “Shir ha-shirim”.

(16) ISAÍAS, “Yeshaiah”. (17) JEREMIAS, com as Lamentações e a CARTA em um só livro, “Yirmeyahu”. (18) DANIEL, “Daniyel”. (19) EZEQUIEL, “Hezeqiel”. (20) , “Hiyob”. (21) ESTER, “Ester”. 

Fora estes, há os livros dos MACABEUS, intitulados “Sar bet sha-bene el”.

 

(1) Gênesis, (2) Êxodo, (3) Levítico, (4) Números, (5) Deuteronômio,

(6) Josué, (7) Juízes e Rute (em um livro), (8) I e II Reinos (em um livro),

(9) III e IV Reinos (em um livro), (10) I e II Crônicas (em um livro),

(11) I e II Esdras (em um livro),

(12) Salmos, (13) Provérbios, (14) Eclesiastes, (15) Cantares,

(16) Isaías, (17) Jeremias, Lamentações, Carta de Jeremias (em um livro),

(18) Daniel, (19) Ezequiel, (20) Jó, (21) Ester. 

Total: Embora Orígenes diga que o número é de 22 livros, só há o relato de 21 livros; a explicação é que o trecho que fala sobre o vigésimo segundo livro (Os Doze) se perdeu (BRUCE, 2001; pág. 68). O livro dos DOZE é composto pelos livros de Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

(FONTE: EUSÉBIO;HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6.25.1,2)(BRUCE, 2011; págs.66, 67, 68)(LIMA, 2007; págs. 46) 

 

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

“Conforme aprendi da tradição sobre os quatro Evangelhos, os únicos também indiscutíveis, na igreja de Deus, que há debaixo dos céus, foi escrito, em primeiro lugar, o evangelho segundo (1) MATEUS; este, anteriormente, havia sido publicado e, depois, apóstolo de Jesus Cristo. Ele o editou para os fiéis vindos do judaísmo, redigindo-o em hebraico.

O segundo é o Evangelho segundo (2) MARCOS, que escreveu conforme as narrações de Pedro, o qual o nomeia seu filho (segundo o espírito) na carta universal/católica, nesses termos: A que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho.

E o terceiro é o Evangelho segundo (3) LUCAS, elogiado por Paulo e composto para os fiéis provenientes da gentilidade.

Enfim, o Evangelho segundo (4) JOÃO.” (EUSÉBIO; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6.25.3-14)(BRUCE, 2011; págs. 173-175)(LIMA, 2007; pág. 47)

 

3. Nesse trecho, observa-se que Orígenes considerava as CARTAS DE PAULO como canônicas, mas não menciona o nome delas (LIMA, 2007; pág. 48).

 

“No QUINTO LIVRO DOS COMENTÁRIOS ao Evangelho segundo João, o mesmo ORÍGENES declara o seguinte acerca das cartas dos apóstolos: PAULO, digno ministro do Novo Testamento, não segundo a letra, mas SEGUNDO O ESPÍRITO, depois de ter anunciado o evangelho desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico, não escreveu a todas as igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas que escreveu, enviou apenas poucas linhas”

(EUSÉBIO; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6.25.3-14; 5º LIVRO DOS COMENTÁRIOS)(BRUCE, 2011; págs. 173-175)

 

4. Nesse trecho, observa-se que, até naquela época, não se tinha certeza sobre quem era o autor da carta aos HEBREUS, mas Orígenes a considerava como canônica, ao dizer que "os conceitos da carta são admiráveis e em nada inferiores aos das genuínas cartas apostólicas".  

 

“Finalmente, externa-se da seguinte maneira sobre a carta aos HEBREUS, nas homilias proferidas a respeito desta última: ‘O estilo da carta chamada “aos HEBREUS” carece da marca de simplicidade de composição do apóstolo, que confessa ele próprio ser imperito no falar, isto é, no fraseado; no entanto, a carta é grego do melhor estilo, e qualquer perito em diferenças de redação o reconheceria.

Efetivamente, os conceitos da carta são admiráveis e em nada inferiores aos das genuínas cartas apostólicas. Há de concordar quem ouvir atentamente a leitura das cartas do apóstolo’.

Mas, adiante, (Orígenes) adita essas afirmações: ‘Mas, para exprimir meu próprio ponto de vista, diria que os pensamentos são do apóstolo, enquanto o estilo e a composição originam-se de alguém que tem presente a doutrina do apóstolo e, por assim dizer, de um redator que escreve as preleções de um mestre.

Se, portanto, uma igreja tem por certo que a carta provém do apóstolo (Paulo), felicito-a, pois não será sem fundamento que os antigos a transmitiram como sendo da autoria de Paulo. Entretanto, QUEM ESCREVEU A CARTA? Deus o sabe. A tradição nos transmitiu o parecer de alguns de ter sido redigida por Clemente, bispo de Roma, outros opinam ter sido Lucas, o autor do Evangelho e dos Atos.” (EUSÉBIO; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6.25.3-14)(BRUCE, 2011; págs. 173-175)(LIMA, 2007; págs. 48, 49). 

 

5. Nesse trecho, Orígenes diz que uma carta de Pedro é "incontestada", mas outra carta de Pedro é "controvertida". (EUSÉBIO; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6.25.3-14)(BRUCE, 2011; págs. 173-175)(LIMA, 2007; pág. 49).

PEDRO, sobre quem está edificada a igreja de Cristo, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno, deixou apenas UMA CARTA INCONTESTADA, e talvez ainda outra, porém CONTROVERTIDA.”

 

6. Nesse trecho, parece que Orígenes considerava o APOCALIPSE de João como canônico. Orígenes diz que João deixou uma carta, a qual parece aceita como canônica, e diz que TALVEZ tivesse deixado uma segunda e uma terceira carta, as quais nem todos as consideravam como autênticas (EUSÉBIO; HISTÓRIA ECLESIÁSTICA 6.25.3-14)(BRUCE, 2011; págs. 173-175)(LIMA, 2007; págs. 49). 

“Que dizer de JOÃO, que reclinou sobre o peito de Jesus, deixou um evangelho, assegurou ser-lhe possível compor mais livros do que poderia o mundo conter, e escreveu o APOCALIPSE, mas recebeu a ordem de se calar e não escrever as mensagens das vozes das sete trombetas.”

“Legou-nos também uma carta de muitas poucas linhas e talvez outra e ainda terceira, pois nem todos admitem que estas sejam autênticas; aliás, as duas juntas não abrangem cem linhas.”

 

 

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OSCILAÇÃO DO CÂNON EM COMENTÁRIOS

 

Quanto ao cânon, ao lermos o que esses bispos e estudiosos escreveram, observa-se uma OSCILAÇÃO, por exemplo: MELITO e ATANÁSIO, em seus cânones, NÃO incluem o livro de ESTER, mas, quando fazem comentários, eles tratam o livro de ESTER como sendo "canônico"; um exemplo "inverso" seria o caso de LUTERO (1483-1546 d.C.) que, embora mencione ESTER no cânon, em comentários, Lutero "não" parece considerar ESTER como canônico. Veja mais detalhes sobre essa questão de OSCILAÇÃO, a seguir.

CAPÍTULO DE SUSANA

Sobre os trechos de Daniel, em sua carta dirigida a Júlio Africano, diz ele: 

Você começa dizendo que quando em minha discussão com o nosso amigo Bassus, eu usei a Escritura que contém a profecia de Daniel quando ainda jovem na questão de Susana, e que eu fiz isso como se tivesse me passado que esta parte do livro era espúria [...] Você alega que tais escritos são falsos porque só se encontram no grego e não no hebraico [...] Em resposta a isso, digo que há muitas outras passagens que, como a História de Susana - que é recebida por toda a Igreja de Cristo - subsistem apenas no grego e não no hebraico [...] ademais todas podem ser encontradas em Áquila e Teodósio.” (Carta a Africano, parágrafo 2).

Por que os judeus os retiraram de suas Escrituras? Orígenes comentou sobre qual foi o motivo da passagem de Susana ser removida. Os judeus não queriam passagens mostrando anciãos sendo condenados. Na história de Susana, ela é desejada por dois anciãos, que tentam abusá-la sexualmente, mas Daniel vem em sua defesa e condena os anciãos. Aqui está o motivo por que, segundo Orígenes, os judeus mutilaram o livro de Daniel:

Portanto eu acho que não é possível outra suposição, além do que o que tinha a reputação de sabedoria, e os governantes e os anciãos, tiraram do povo cada passagem que poderia levá-los a descrédito entre o povoNão precisamos nos admirar, então, que essa história do artifício maligno dos anciãos licenciosos contra Susana é verdadeira, mas foi escondida e retirada das Escrituras pelos próprios homens não obstante pelo conselho desses anciãos”. (Orígenes a Africano, 9).

Assim, Orígenes fala da validade e do verdadeiro status de Escritura da parte deuterocanônica de Daniel. Ele diz que os cristãos não têm por que duvidar da sua veracidade. Afirma que os judeus que a esconderam e a retiraram de suas Escrituras o fizeram para “proteger” os anciãos do descrédito do povo. A Igreja não participou dessa dissimulação, como Orígenes indica, pois essa parte é verdadeiramente Escritura.

LIVROS DE ECLESIÁSTICO

pelo menos é o que a Escritura Divina declara: ‘Qual raça é digna de honra? A raça dos homens? Qual raça é digna de desprezo? A raça dos homens?’ (Eclesiástico 10, 19)” (Contra Celso LVIII, 50).

 

LIVRO DE SABEDORIA 

Como é definido pela Palavra de Deus: 'Emanação do poder de Deus, eflúvio de sua Onipotente Glória... (Sabedoria 7, 25) (Contra Celso Livro III,72). 

 

LIVRO DE TOBIAS

Mas estes oram juntos com aqueles que realmente oram, não só o sumo sacerdote, mas também os anjos que 'alegrar-se no céu por um pecador arrependido do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento’, (Mateus 15, 7) e também as almas dos santos já descansam. Duas instâncias deixar isto claro. A primeira é quando Rafael oferece seu serviço a Deus por Tobite Sara. Depois de tanto orado, a Escritura diz: ‘A oração de ambos foi ouvida ante a presença do grande Rafael e ele foi enviado para curar os dois’ (Tobias 3, 16-17)...” (Sobre a Oração VI). 

 

LIVROS DE MACABEUS 

Mas para que possamos crer na autoridade das Sagradas Escrituras que tal é o caso, ouça como no livro de MACABEUS, onde a mãe dos sete mártires exorta seu filho a suportar a tortura, esta verdade é confirmada, pois ela diz, ‘peço a ti, meu filho, para observar o céu e aterra, e em todas as coisas que neles há, e vendo estas, saber que Deus fez todas essas coisas quando elas não existiam.’ (II Macabeus 7, 28)” (Dos Princípios 2,5).

Na obra Exortação Ao Martírio, após haver citado e comentado o episódio do martírio dos sete irmãos, descrito em II Macabeus, ele diz:

“Penso ter escolhido o que há de mais útil na Escritura para predispor os ânimos... (Exortação ao martírio 23 - 27).

 

LIVRO DE BARUQUE 

A Escritura Ensina: Ouve oh Israel os preceitos da vida e as normas da prudência’ (Baruc 3,9).” (Homilia VII).

 

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FONTE BIBLIOGRÁFICA

*Manual de Defesa dos Livros Deuterocanônicos; Rafael Rodrigues; Clube dos Autores; 2012.

*O Cânon Bíblico; Alessandro Lima; Editora ComDeus; 2007.

*O Cânon das Escrituras; Frederick Fyvie Bruce; Editora Hagnos; 2011.